No contexto da freguesia da Branca, em Coruche, a artista desenvolveu uma residência artística co-criativa que culminou na criação de uma peça de tapeçaria em ponto de Arraiolos. Esta iniciativa envolveu 21 membros da comunidade local, unidos durante 10 dias de intensa produção e partilha. Desde o início da residência, a artista foi profundamente, e de certo modo inconscientemente, inspirada pelas tonalidades verdes, rosas e beges, que ecoam dos campos de urze abundantes na paisagem de Coruche. Através da sua ligação emocional com o elemento água, particularmente simbolizado pela Ribeira de Lavre, que aponta geograficamente na direção de Arraiolos foi fundamental para a elaboração deste projecto, experimentando diversas técnicas, incluindo o uso de água, sabão e tinta da china, resultando no desenho que posteriormente desenvolveu na tapeçaria. Para além das cores da urze e da água, o bege foi escolhido evocando tons do trigo e do arroz, com palavras significativas pintadas sobre a lã, palavras estas ditas e partilhadas entre artista e todos os envolvidos. A peça incorpora ainda "canudos", utensílios tradicionais utilizados durante a ceifa, que protegiam os dedos médio, anelar e mindinho durante o árduo trabalho. A forma da peça representa a forma do território trabalhado, que foi mote e inspiração para o início do desenvolvimento de todas as ideias. A técnica de tapeçaria em ponto de Arraiolos, originária do Alentejo no século XVI, foi empregue, resgatando um ponto histórico que se tornou raro no uso de técnica devido à “necessidade” de industrialização. Este projeto não só celebra a tradição, mas também fortalece os laços comunitários a partir da arte.
Tapeçaria em ponto de Arraiolos
170 x 173 cm
EN
In the context of the parish of Branca, in Coruche, the artist developed a co-creative artistic residency that culminated in the creation of a tapestry piece using the Arraiolos stitch. This initiative engaged 21 local community members, united over 10 days of intense production and sharing.
From the start of the residency, the artist was profoundly, and somewhat unconsciously, inspired by the green, pink, and beige tones, which echo the heather fields abundant in Coruche's landscape. Her emotional connection with the element of water, particularly symbolized by the Ribeira de Lavre, which geographically points towards Arraiolos, was essential for the development of this project. The artist experimented with various techniques, including the use of water, soap, and India ink, resulting in the drawing that she later developed into the tapestry. In addition to the heather and water-inspired colors, beige was chosen to evoke the hues of wheat and rice, with meaningful words painted over the wool—words that were spoken and shared between the artist and all participants.
The artwork also incorporates "canudos," traditional tools used during the harvest, which protected the middle, ring, and little fingers during arduous labor. The shape of the piece represents the form of the territory that served as the theme and inspiration for the initial development of all ideas. The Arraiolos stitch technique, originating from the Alentejo region in the 16th century, was employed, reviving a historical stitch that became rare due to the “need” for industrialization. This project not only celebrates tradition but also strengthens community bonds through art.
Tapestry in Arraiolos stitch
170 x 173 cm