“A peça “Headway”, que significa progresso, avanço, analisa e “desenha” o impacto da actual pandemia em indivíduos, números matemáticos por solitário, e na sociedade como um todo, casa-mãe, ameaçada e infectada com um novo vírus que não consegue “decifrar”. A peça é composta por uma geometria base produzida a partir de módulos de gesso, unitários, que se aproximam, agora timidamente, traduzindo uma linguagem comum, coesa, permanente curiosa (substituindo a omnipresente cautela). Com que linhas se cose a incerteza? Com que molde se desenha o medo? Em que teares se cruza o receio? Como acrescentos faustosos, excessivos e que pedem uma temível carícia e o toque que agora se evita, os pedaços de tapeçaria em Arraiolos revelam partes de um corpo humano débil, frágil, apagado, resignado. Uma nova rotina imposta. As gravuras que aparecem ao longo da peça representam diferentes olhares e vozes em silêncio, vento que sopra mas não verga, luz ténue e baça, pele de maçã um dia acariciada, hoje queimada pelo sol. Saudade desperdiçada. Um espaço comum que agora já não é de todos, um universo outrora plural, agora particular. O limite, fronteira, quadrado, círculo perfeito. A partilha dissimulada por números primos. Por equações. Suposições dadas como certas. E em tudo e todos, o universo como pensamento, intuição, previsão. E o mundo e futuro à frente. Lying Ahead. Just lacking the right Way.”
(Susana Cereja, 27.10.2020)